Desde o principio a idéia parecia boa! Mesmo se tratando de um confronto de Serie B, para um amante do futebol, acompanhar uma partida entre o, então, líder do campeonato, o Campeão Brasileiro de 78, Guarani - finalmente em ascensão depois de vários anos sendo rebaixado e brigando apenas pelas ultimas posições de quase todos os torneios que disputou -, contra a Lusa, time de colônia, sim, mas que também briga e sonha em voltar a ser o que já foi um dia, tempo no qual chegou a decidir Campeonato Paulista, e títulos nacionais.
Longe de me dizer entendido, ou “expert”, no assunto, mas quando olhei na tabela do campeonato no dia anterior e vi que no Canindé se enfrentariam Portuguesa e Guarani logo me lembrei de um amigo, torcedor do Juventus da Mooca que gosta de um futebol, digamos, mais alternativo do que o de Serie A (Palmeiras, Corinthians, São Paulo...), e pensei: Lusa x Bugre, mesmo sem holofotes, sem muito alarde da imprensa, tem tudo para ser um jogão de futebol.
Depois de esperar uma eternidade no metro Tiete, até que enfim chegassem meus companheiros na noite lusitana, protestei com um deles, pois a partida já estava em andamento e lá já iam pelo menos vinte minutos de partida. Quando finalmente chegamos ao Canindé, mas ainda do lado de fora do estádio da Portuguesa alguém avisa que a partida estava 1x1. A entrada mais próxima de onde estávamos era a do Bugre, tentei convencer meus amigos a entrarem nessa torcida – eu tinha quase certeza de que seria um grande jogo, como já mostrava o placar de 1x1 com alguns minutos da primeira etapa, no entanto eu acreditava numa vitoria do Guarani, e naquele momento queria acompanhar mais de perto a possível festa do ate então líder da segundona -, nada feito demos uma volta no estádio até finalmente encontrar a bilheteria da Portuguesa. Ainda do lado de fora escutamos a explosão do grito de gol. Foi da Lusa? Que nada, o Guarani virava a partida para 2x1.
Compramos o ingresso e corremos para a arquibancada, vale ressaltar que para a torcida da Lusa tudo ali era meio longe, tivemos que dar uma longa volta para chegar ao portão de entrada, andar até a bilheteria, e depois retornar para próximo da entrada onde havia uma escada que dava na arquibancada lusitana. Era mais fácil ter entrado na torcida do Guarani.
Agora sim na arquibancada, nós que estávamos num grupo de oito pessoas nos separamos, eu e meu amigo, que fomos os primeiros a chegar ao ponto de encontro no metro, ficamos atrás do gol defendido pelo goleiro Fabio da Portuguesa. Um pequeno parêntese, se há um lugar bom para ver jogo de futebol, esse local é o estádio do Canindé, verdade que muita coisa é ruim e desorganizada, fato é que estamos no Brasil, mas em matéria de visão que se tem do campo, o Canindé, mesmo por ser acanhado, da um pau no Morumbi e no Palestra.
Atrás da meta lusitana, correndo o risco de levar quem sabe até uma bola em algum chute forte por cima do gol, tive o prazer de acompanhar um frangasso do goleiro de pernas compridas, Fabio. Um chute cruzado do lateral bugrino Maranhão que passou no meio das pernas do arqueiro. Ainda no final da primeira etapa, enquanto a torcida verde e branca, que praticamente lotava a área reservada aos visitantes, cantava e fazia festa, o Guarani ainda teve algumas chances de aumentar a vantagem, parecia que ia se desenhando uma humilhante goleada para a segunda etapa. Enquanto do outro lado, o torcedores lusitanos xingavam e reclamavam de alguns jogadores, dentre eles o experiente Cesar Prates que não apoiava e nem marcava.
Tudo indicava que a Lusa, caso não mudasse a postura dentro de campo, tomaria uma histórica goleada dentro de sua própria casa. No entanto um homem, que inclusive perderia um gol feito, foi o grande responsável pela virada Portuguesa: o centro-avante Christian, chamado pela torcida da Lusa de Jesus Christian.
A alteração de Paulo Bonamigo, técnico da Lusa, deu certo e Christian entrou em campo chamando o jogo, sem medo dos marcadores adversários, e principalmente com sua postura, tirando a bola do campo de defesa da Lusa e tornando sua equipe mais ofensiva. Vendo que o time reagia dentro das quatro linhas a torcida da Portuguesa passou a apoiar, cantando sem parar e demonstrando seu amor pela tradição do rubro-verde. Na base da pressão a Lusa marcou dois gols de cabeça, em jogadas parecidas de bola alçada na área, e igualou a partida em 3x3.
Entretanto ainda restavam alguns minutos de bola para rolar, a torcida portuguesa cantava, “vou torcer pra Lusa bebendo vinho, a serie A é o meu caminho!”, e o caminho da virada era a pressão. Cabeçada de um lado, bola rolada pra trás e bomba de Marco Antonio, que ainda desviou em Andrézinho, matando o arqueiro do guarani.
Virada heróica, e histórica, os fanáticos torcedores se abraçavam e vibravam com a conquista, o velho placar do estádio, ao final do confronto, marcava Portuguesa 4x3 Guarani. Como á tempos não se via, a torcida rubro-verde viveu uma noite de mágica, uma noite com futebol de vencedor. Mesmo tendo perdido o inicio de jogo, e os três gols iniciais, por sorte o futebol nos reservou o melhor para o final. Festa lusitana com direito a tomar caldo verde de colherzinha no final!
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Opá, o caldo verde e o charme da marginal tietê te inspiraram hein fio...
ResponderExcluirMuito bem escrito, passa a emoção do jogo, coisas que só acontecem com a Lusinha, pelo menos dessa vez o ocorrido foi um alívio para a sofredora massa...
Flw Larck! parabéns por mais um bom texto
Jogaço esse. Torço pro Bugre subir, mas sejamos realistas: caso isso aconteça, ele vai cair de novo imediatamente. Graças a Beto Zini e seus asseclas, que transformaram o maior revelador de talentos do país numa sucata.
ResponderExcluirAliás, teria sido esse um confronto dos índios contra seus algozes portugueses?